“Oh, Capitão, meu Capitão”

"Por que fez isso?”, perguntaram. Eu apenas sorri. Alguns acharam tratar-se de um sorriso de deboche ou de inconseqüência, por desconhecer a severidade dos meus atos. Mas não se tratava disso, na verdade. Sorri por ver que estavam tão subjugados por sua hipocrisia que eram realmente incapazes de enxergar minhas razões, por mais óbvias que fossem.

Talvez por cansaço, mudaram a sentença: diziam “você fez isso por causa dele!”. Tentaram me comprar ofertando isenção por ingenuidade. Apesar da raiva que senti por ter meu caráter ofendido, hoje vejo que não poderia ser diferente, já que me presumiam em tão baixa conta.

Apesar disso, não lhe expliquei meus motivos. Entendi que não se podia falar com quem não compartilha a língua e eles não entendiam o meu. Eles falavam o idioma da alienação e este, digo com orgulho, deixei para trás no esquecimento. Estavam tão submersos em sua filosofia hipócrita, que preza pela revelação pública, mesmo que notória seja sua farsa encobridora,  que a verdade, não se conformando com seus preconceitos, perde seu status e é relegada aos sussurros nas sombras. Em virtude de tudo isso, quando me ofereceram uma fuga covarde cuspi em seus papéis e sinetes.

Hoje me oprimem com as conseqüências de seus códigos vis. Se não chegam ao meu espírito, buscam ao menos marcar minha carne. Apesar de preservar o quem e cabe de mais digno, gostaria de pensar que venci, mas seria um engano. Uma vitória de tal feitio não tem repercussão nos corredores escuros por onde aqueles corrompidos por seu sistema caminham mesmerizados. Torna-se irrelevante, pois, assim que meus gritos de protestos se esvaírem com minha vida, toda minha luta será profanada. Minha história será escrita como eles desejarem e as razões reais de minhas atitudes serão perdidas para sempre. Não haverá inspiração. No fim a norma segue adiante e devora todos que se prostram diante dela. E são muitos.

Se não venci, o que ganhei, afinal? Gosto de pensar que, apesar disso tudo, não foi uma batalha perdida. Se me perguntam qual foi meu ganho com essa contenda, de pronto respondo: eu sempre me aquecerei nas chamas que consumiram meu algoz.   

 

Dedicado à Sociedade dos Poetas Mortos.