Eu não sei bem o que é isso. Sem querer fazer aquela historinha de "estou postando qualquer coisa", eu realmente não sei o que é isso. Ontem, antes de dormir (e ter um sonho bizarro), me veio essa imagem na cabeça (que não tem nada a ver com o sonho, mas está no mesmo clima de estranheza). Na verdade era ser mais sinistra e não ficou de acordo com o pensamento, mas serve. No fim acabei gostando.

Uma fábula política


Era um vez um povo que vivia numa terra boa.
Ambos, o povo e a terra, eram grandes. O povo, por ser grande, tinha uma enorme diversidade e a terra, por sua vez, era muito extensa e, por isso, abarcava os mais diversos climas. Era possível que em um extremo da terra o sol estivesse quente e forte, enquanto no outro, o frio caisse pesado e duro. Consequentemente, era uma terra potencialmente rica, com plantações das mais variadas, gado e minérios.
Toda essa riqueza pertencia a esse povo que lá vivia e cada um cuidava de seus próprios negócios. Se chovia e a colheita fosse boa, ótimo; se não, paciência. Como é característico, de todos os povos procurar razão para as coisas, eles começaram a pensar qual seria a razão de um dia chover e no outro não. Do gado ficar doente no seu campo e não no do vizinho. Foi quando surgiram essas perguntas que os deuses inauguraram sua chegada nessas terras. Estranhamente, hoje o povo pensar que eles sempre estiveram por aqui, embora saibam que em algum momento no passado as coisas fossem diferentes. De qualquer maneira os deuses vieram e falaram:
“Temos o poder sobre o céu e a terra. Podemos ajudar vocês caso rezem por nós. E quanto mais rezarem, mais poderemos ajudar.”
O pessoal ficou maluco, claro. Finalmente acharam uma forma de fazer as coisas terem algum sentido. Alguns até ficaram satisfeitos e aliviados por não precisarem lidar com a situação eles mesmos e contentavam-se em pagar o trabalho com rezas.
Assim as coisas foram se ajustando. As pessoas trabalhavam na terra, cuidavam de suas vidas enquanto os deuses diziam como as coisas seriam. Quando alguém queria algo mais específico, como por exemplo mais carne na mesa ou uma casa nova, rezava para um dos deuses e pedia por isso. De acordo com sua proximidade com o deus em questão, a pessoa era atendida ou não. Mas uma coisa era certa: as rezas.
Com o passar do tempo, e antes que o próprio povo desse conta, os deuses começaram as trazer leis e regras sobre como ele deveria agir, e começaram a governar não só a terra, mas a vida das pessoas. Alguns, mais espertos, notaram que, na verdade, ao controlar a terra, os deuses já controlavam as vidas de quem dela dependia. Mas esses ficaram quietos e escutaram resto da história.
O povo então coçou a cabeça e perguntou a eles:
“Por que essas leis? Agora vocês querem mandar na gente?”
Os deuses, em uníssono responderam:
“Não é bem assim. Entendam que, para que o povo funcione de forma coesa e seja forte, precisa de leis. Regras que façam todos iguais. Eis a democracia. Para vocês terem uma idéia, até nós, deuses, nos sujeitamos a essas regras! Vejam como elas são importantes!”
O povo parou, pensou. E como não entendeu muito bem, deixou de lado, pois até que a resposta talvez fizesse sentido. Se os próprios deuses se sujeitariam a isso, mau não podia fazer
Algum tempo depois, após ouvirem umas certas histórias a respeito das brigas entre os deuses (provavelmente coisa de ego: quem ganhava mais rezas ou quem concedia mais desejos ao povo), mesmo sem saber muito bem o que se passava, o povo foi até eles novamente e perguntou:
“Vem cá. Com essas histórias todas a respeito de vocês, o que andam fazendo.... não sei não... Além disso, rezamos pra caramba e muitas vezes vocês não cumprem o que prometeram. E Também nenhum deus está sendo punido como nós, o povo aqui da terra, quando infrigimos as tais leis que vocês trouxeram? Muito estranho isso...
Então os deuses confabularam entre si e responderam juntos:
“Bem, é que, como nós fazemos coisas muito importantes, precisamos que vocês rezem muito por nós. Porque são coisas realmente muito importantes. Tão importantes que nem explicaremos como funcionam, pois vocês não entenderiam. Sobre as punições, bem... é que dentre essas coisas secretas e muito importantes, há um monte de coisas sujas e feias. Algo como demônios que precisamos combater, entende? E para isso acabamos expostos a eles e suas sujeiras. Eventualmente nos contaminamos. Por estarmos submetidos a isso, precisamos de mais rezas ainda, para sermos fortes e resistirmos a eles. E, se acontecer de algum irmão cair em suas garras, ele não deveria ser punido por tombar em batalha, certo? Afinal, ele se sacrificou em nome do povo.”
O pessoal se entreolhou de novo e cochicharam. Coçaram a cabeça novamente e foram embora, dessa vez sem entender patavinas.
O tempo, claro, continuou passando e mais noticias chegaram aos ouvidos do povo a respeito das peripécias dos deuses para quem andavam rezando. Eram tantas que um belo dia alguém disse: “como os deuses têm tempo de fazer o que se propuseram, ou seja, organizar nossas terras, se estão o tempo todo brigando entre si, com esses tais demônios ou usufruindo de nossas rezas?”. O povo então disse “ih, é mesmo!” e foi até lá perguntar para eles.
“Deidades, explica aqui um negócio. Como é que vocês administram a terra enquanto um está preocupado em ouvir rezas, o outro ausente pra caçar demônos, o outro brigando com o irmão? Pelo que andamos vendo por ai, a terra anda uma verdadeira bagunça”.
Dessa vez, diferente das anteriores foi uma algazarra. Dedos apontados, papiros escandalosos, sangue e preces por todos os lados. Os deuses falavam todos juntos, mas dessa vez falavam coisas diferentes. Eles então fecharam as portas pro povo não ver o papelão. O povo esperou um bom tempo antes de bater na porta novamente. Ninguém respondeu. Bateu novamente, com mais vigor. Nada.
Ai começou uma bagunça generalizada, todo mundo batendo nas portas e gritando pelos deuses, exigindo uma explicação.
A porta, então, se abriu. E os deuses surgiram com ar aborrecido.
“E então, o que me dizem sobre isso, excelentíssmios? Qual a razão dessa zona toda?”
Um deles deu um passo à frente e disse com ar despreocupado:
“Não há zona alguma”
“Como não?”, disse o povo. “Está na cara de todos que quiserem ver!”
O Deus então deu outro passo à frente.
“E o que vocês, povo burro e fraco, podem fazer contra nós, deuses, que controlamos toda a terra?”
Ai o povo parou, coçou a cabeça, pensou. Ai deu de ombros e foi-se embora.

Já que agora eu só faço isso mesmo...

Sei que isso deve estar cansativo. Mas eu gosto desse desenho e eu prometo ser o último post dessa bateria.
Bom, como isso é sobre desenhos e não textos, sem mais delongas, lá vai:

Arte em Paint... ou algo parecido.

Eu ando com essa mania. Agora eu fico desocupado e começo a rabiscar no Paint, como vocês podem ter entendido no post anterior. E como ando sem textos para esse blog, lá vai mais desenhos pelas gargantas de vocês.

Esse é um trabalho que me deixou em dúvida. Sempre parecia faltar coisas, então eu fiz duas versões preenchendo com idéias diferentes.

 O original:

A primeira idéia:
 A segunda idéia:
 Alguma preferência?

Eu sou artista!

Então, ai eu decidi deixar de lado meu egoísmo e compartilhar com vocês um desenho que fiz. É significativo porque fiz no paint (porque eu não tenho idéia de como colocar meus desenhos em papel no computador). Honestamente, gostei muito do resultado, sobretudo se for considerar a ferramenta.
Esse é o primeiro de vários, por isso, o mais querido.




 Então, é isso. Digam o que acharam. E sejam gentis.

Laranja Mecânica e aquela kal toda.


Eu sei que enrolei um bocado pra escrever esse post. Acho que é porque esse livro me pareceu um pouco difícil, pela quantidade de coisas que pense a respeito dele e fiquei meio enrolado pra colocar isso em papel. Essa é a segunda tentativa, portanto, vamos lá.
De forma cronológica, a primeira impressão foi marcada no prefácio, escrito pelo tradutor. Muito interessante, por sinal, fala a respeito da relevância de Anthony Burgess no estilo literário e o coloca junto a Geroge Orwell e Aldous Huxlei, com 1984 e Admirável Mundo Novo. Fui me envolvendo com a comparação e fiz minhas próprias viagens (e depois vi que estava redondamente enganado). De certa forma, esses livros são caricaturas, exageros de modos de governo e então achei que... não, não... isso está muito chato. Vamos só dizer que Laranja Mecânica parecia ser um ode à Anarquia, mas na verdade não é nada disso. Muito mais retrava a visão de um sujeito muito, mas muito desmedido, que é o tal de Alex. Aliás o Alex é um moleque sinistro, que consegue fazer com que você sinta pena dele mesmo enquanto estupra moças e chuta velhinhos. Ele tem um quê de infantil e ai entra outro lance interessante do livro. Para quem viu o filme (filmão!) do Kubrick, vocês podem não saber, mas o Alex do livro tem apenas 15 anos. E já é o cão chupando manga, vejam vocês. Realmente é fruto de um mundo muito fodido.
Um outro aspecto referente à juventude do rapaz é o nadsat. Isso é o nome do dialeto, por assim dizer, da molecada, ou melhor dizendo, da pivetada. É um monte de palavras bizarras, que nascem da junção /distorção de inglês e russo e correspondem aos nossos “fodeu, tá ligado, perdeu playboy” e coisas do tipo. Ma, na real, o nadsat é muito mais maneiro. Eu até o adotaria, se não fosse o fato de ninguém entender e isso ser de um pedantismo absurdo. Bom, talvez mais tarde. Ler Laranja Mecânica me fez lembrar do querido Lacan. Podem rir, mas sabe quando você lê um texto e não entende 60% do que ficou pra trás, mas mesmo assim segue adiante? Então, é uma experiência semelhante. Ao menos se você suportar não consulta o glossário que está malandramente complementando as páginas finais do livro. Nadsat é foda!
Como isso não é uma resenha e sim um post (meio feito a contragosto, admito), só vou sublinhar outro ponto interessante, no fim do livro.
ALERTA DE SPOILER
Para quem viu o filme, o livro parece como que tendo um capítulo extra. Trata-se de um desfecho que dá um tom muito mais light a tudo que acontece – e por isso foi limado do filme – de maneira que realmente tudo fica com cara de uma fase adolescente, algo normal, que veio e depois passo. Bom, talvez até seja isso mesmo tendo em vista toda cultura fictícia (mas nem tanto) do livro, a postura do Estado, da polícia, da política de oposição, a juventude representada por Alex é até esperada.  

Em nome da produtividade

Esses dias (muitos dele) de letargia me têm feito mal (ou seria mau? Eu nunca sei a diferença direito e preciso pesquisar toda hora a grafia correta para minhas intenções, então em nome da malandragem direi que me faz mal – ou mau – nos dois sentidos, das duas grafias). Ficar parado me faz consumir muita coisa, mas infelizmente me tem deixado muito pouco produtivo no que diz respeito à emissão de conteúdo ( embora sua fabricação seja feita em escala industrial pois minha cabeça não para de criar coisas. Algumas delas até prestam, inclusive). Seja como for, acredito que a segunda coisa... não, a terceira... mais emblemática para mudar esse curso é uma nova postagem em blog. Pensando bem agora isso soa um pouco ridículo, mas vamos seguir com o plano. Disse o coringa, não com essas palavras mas enfim “pode dar a merda que for, desde que esteja de acordo com o plano”. Então o plano é esse. Fazer um post. No caso resolvi fazer um post sobre o que venho consumindo vorazmente e, se possível for, emitir uma ou outra opinião a respeito. Vamos à lista, pois bem.

Livros: realmente, livros me fazem bem. Honestamente ler livros, para além de toda idiotice de me enganar pagando de intelectual, é algo realmente prazeroso para mim. Qualquer livro, embora uns sejam mais interessantes do que outros. O ato de ler combina comigo. A introspecção, a apreensão e apreciação de uma história ou ampliação da minha cultura, útil ou não, é um grande tesouro para mim. Agora estou no terceiro quarto de um que não se trata realmente de uma grande surpresa, mas traz muitos valores no pacote. Trata-se dA Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr. Esse autor eu conheci através do Nerdcast, podcast que acompanho semanalmente e que realmente recomendo (ver um possível post seguinte). O livro em si não me surpreende porque Eduardo é um cara de escrita correta. Acho que digo “correta” no que posso conceber como sentido mais pleno da palavra, pois não é algo que afere exaltação nem depreciação. Mas comecemos pelos aspecto não tão legal (para mim), pois quero dar destaque aos seus muito méritos.

Infelizmente, Eduardo Spohr tem algo que como uma perspectiva correta demais sobre as coisas. Como dizer isso... seus personagens falam de forma muito semelhante. Não em conceitos, mas em execução. Ablon, seu protagonista, um anjo de 15000 anos, fala e pensa como um grego de 30 anos, que fala como seu pai, de 50. Eu gostaria de mais tridimensionalidade nesse sentido. Gostaria de ver um cara de 15000 anos preocupado com outras coisas, ou melhor ainda, com uma outra postura a respeito do mundo e dos eventos, diferente de um sujeito de 50 anos. Bom, eu gostaria de ver um personagem falando gírias, talvez até com português ruim. Sabe aquele papo de que quando se é velho a perspectiva diante da vida é outra? Imagino isso mil vezes multiplicado. Ou então quando se tem uma vida de merda e as percepção das coisas, os valores e afins são diferentes? O dia que escrever meu livro terei isso em mente (ra ra ra). Mas não condeno completamente o autor por isso. Tem algo nas suas referências que caminha por aí, sobretudo no que diz respeito ao maniqueísmo dessa história em particular. E é esse maniqueiísmo que orienta A Batalha do Apocalipse. Tolken e muitas das histórias (animes em geral, alguns quadrinhos e etc) que tanto eu quanto o autor gostamos, trazem essa perspectiva preto-no-branco, mas, hoje eu prefiro contos com escalas de cinza. Acredito ser esse um dos grandes valores de uma literatura adulta. Talvez seja isso. A Batalha do Apocalipse, embora seja um ótimo livro, talvez não seja um livro tão adulto e sim um livro mais adolescente.

Mas, como eu ia dizendo, Eduardo Spohr escreve bem. Tem um vocabulário que eu espero encontrar em outros autores cascudos, como Bernard Cornwell ou Tolken. Spohr é um cara que, como eu, é apaixonado por literatura fantástica, influenciado por RPG, quadrinhos, filmes e etc. É um cara moderno e, eu arrisco dizer, um ótimo exemplo de nerd. Isso é um puta, mérito, ao meu ver. Mais do que isso, é um cara que, com essas referências, sentou a bunda e fez acontecer o que eu acho de mais fabuloso para pessoas como eu: escreveu um livro sobre isso. E tornou-se um autor nacional comercial. Comercial no bom sentido da palavra. Um autor cujo livro uma editora – e depois outra, vejam só! - olhou e disse “cara, as pessoas vão comprar sua história!”. E realmente compraram. No meu caso, especificamente, além da história ter um plot que me agrada, todo esse background do autor foi provocador do meu interesse. Certa vez tentei ler um outro autor nacional, André Vianco, mas apesar de gostar da temática Vampiro, eu não achei interessante a sua forma de tratar o assunto. Fiquei positivamente surpreso com a forma de Vianco trazer o pano de fundo para o Brasil (quase que uma “obrigação” de qualquer autor nacional ao contar uma história de ficção contemporânea, na minha opinião), mas eu sou realmente chato quando se trata de vampiros. Talvez seja o público cativo que tais contos atraem, talvez seja o engessamento atual do personagem Vampiro. Ou sua super-exploração. Na verdade, a última caracterização interessante que eu li foi o vampiro Cassidy, no quadrinho Preacher, de Garth Ennis. Seja como for, a temática de Spohr me soou mais interessante e por isso comprei seu livro.

Na verdade, na época que comprei, ele era distribuído pela Nerdbooks e estava prestes a ser lançado por outra editora, mais barato. Porém, em um mundo onde se consome tanto e muitas vezes de graça, acho que alguns valores devem ser agregados ao que escolhemos consumir. Esse livro no caso, agrega o valor do autor, como disse antes, a sua disposição de correr atrás e fazer seu livro ser publicado em qualidade que não deixa a desejar a nenhuma outra obra de grande porte, além da Nerdbooks em si, que pertence ao site  Jovem Nerd. Ora bolas, eu consumo o conteúdo desses caras de graça (claro, eles não fazem isso de graça, mas isso é outro papo) e achei, então, interessante comprar o livro nessas ircunstâncias. Ontem, inclusive, vi o livro uns 15 reais mais barato (talvez esse fosse quase o valor do frete, caso comprasse a esse preço), mas sinceramente estou muito feliz com minha decisão.

Ah, claro, a história do livro. Bom, não vou falar sobre a história do livro. Fica o link pro Nerdcast onde um episódio inteiro foi dedicado a falar – e fazer propaganda, porque não? - a seu respeito.

Isso ficou mair do que eu esperava, então vou ficar por aqui. Próximo post (que será publicado assim que eu atingir os 3 comentários de praxe), Laranja Mecânica (apenas papo furado, pois ainda não li o livro).

Onde diabos se enfia a ética?

Lendo hoje, um pouco atrasado, devo confessar, a edição dessa semana da Veja, vi um artigo interessante chamado “Aula de ética é em casa, não na escola”, de Gustavo Ioschpe. Falava a respeito da inutilidade do ensino de ética como conteúdo prático nas escolas (e faz uma ressalva dizendo que isso deve estar presente em ações, que eu entendi como extra-curriculares, por assim dizer). Fiquei um pouco incomodado. Observando, então, meu direito à liberdade de expressão resolvi compartilhar com meus três leitores o que isso me suscitou.
Primeiramente, acho que há um problema nessa questão de lugar onde ensinar seja lá o que for. Segundo o autor, há um equívoco na conduta de nosso educadores e do MEC no que diz respeito ao lugar onde esses tais valores devem ser colocados para os alunos. Ele defende que tais colocações éticas devem ser incumbidas aos pais desses alunos, em casa, de maneira que o tempo na escola seja melhor utilizado, dando ênfase nas disciplinas que, na falta de termo melhor, e com um quê de deboche, vou chamar de produtivas. Realmente eu não consigo ver essa dissociação. Embora seja óbvio que existam diferenças entre o espaço-escola e o espaço-casa, entendo o sujeito que entre eles transita como alguém que invariavelmente mistura esses espaços, exercendo-se como aprendeu (aprendizado esse que fez sozinho com o que lhe apresenta o mundo, diga-se e passagem, pois isso está além do controle total de qualquer um). É de comum acordo, creio que a criança ou adolescente, ou adulto, não é capaz de entrar no modo-escola, modo-casa, modo-trabalho, ou seja lá que imperativos operacionais ele pudesse dispor para estar nesse ou aquele lugar. Veja bem, não nos faltam casos de pessoas que se aborrecem em um desses locaise levam consigo esse aborrecimento para o outro. Como poderia ser diferente? Não é opcional, é operacional, por mais que tentemos nos portar de acordo com o lugar onde estamos (porque também é notável as inúmeras coisas que buscamos fazer que se opõem ao que fazemos de fato). Sobre ética, mais especificamente, me ocorre que trata-se realmente não de uma disciplina a ser passada, contando com uma passividade do aluno que realmente não existe. Por outro lado, discordo quando dizem que deve ser dissociada de qualquer outra coisa. O próprio exemplo da cola, dado pelo autor, me sugere que isso permeia qualquer disciplina e qualquer espaço. É algo que nos orienta o comportamento. Não para o certo ou errado, mas simplesmente é como conduzimos as coisas, quer o senhor diretor, pai ou juiz goste ou não. A ética está mais para uma parte do nosso, digamos, sistema operacional, e não para um programa. Taí, se fizermos uma analogia com um computador , poderíamos pensar nas disciplinas que aprendemos, ou não, como programas executáveis específicos. A ética é parte do sistema operacional, que dependendo de como tenha sido escrito, permite determinadas ações e outras não. O Windows me permite fazer uma ação com um duplo-clique, o Linux não. Assim, minha ética não me permite colar em uma prova, diferente do Fulaninho, que cola e passa na escola.
Seja como for, ainda temos a problemática do lugar adequado para se fazer isso e sendo bem objetivo, acredito no seguinte: ilude-se quem imagina que a escola seja um local onde as pessoas vãos para absorver informação. Matérias úteis. Isso me lembra Matrix, onde o Neo aprende um monte de coisas úteis (artes marciais!!!) fazendo download de programas .exe através de um plug na cabeça. Entendo a escola como mais um espaço de desenvolvimento do sujeito, como sua casa, a rua, a cadeia, o Piscinão e Ramos ou a igreja. É um local onde sujeitos se expõem a encontros e esbarrões, e vão buscar material para acrescentar no seu sistema operacional. Esse material pode ser Matemática, Física, roubar o dinheiro do lanche de alguém, surrar o carinha que pega o dinheiro dos outros, ou convencer esse cara a devolver o dinheiro. Enfim, pode ser muita coisa e honestamente acho um pouco de presunção dizer o que se aprende ou não na escola, uma vez que cada um aprende qualquer coisa que está disposto e lhe seja possível. Essa é a única máxima que consigo ver: sendo a escola um local de encontro entre pessoas, o que emerge daí é imprevisível, portanto não se engessa esse aprendizado. E isso vale tanto para nossas queridas disciplinas produtivas quanto para nossa ética. Sendo assim, acredito fazer muito mais sentido pensarmos como é o nosso sistema de ensino, que metas ele tem e como busca essas metas. Particularmente acredito que existam muitos problemas no nosso sistema e os mais importantes ainda estão meio escondidos. Pergunto se a escola tem realmente que ser um lugar onde aprendemos a fazer equações matemáticas bizarras e deixamos, com isso, de vivenciar a importância de ler um jornal.

Canhoto e destro.

Então, um dos irmãos Wachowsky é transsexual sabiam? Aliás, vocês sabem quem são eles? Se a resposta é não, eu digo: são os dois responsáveis por Matrix (acho que foram roteiristas e diretores, mas como eu não tenho certeza, deixa na abrangência). Claro isso não é noticia, tem tempo pra cacete e não é sobre isso exatamente que quero falar. O lance é que eles vão lançar um novo filme agora e que, eu li por aí, terá muitas coisas. Viagem no tempo, tiroteio -pois é um filme de guerra... ou não – e também o romance homossexual entre dois soldados. Blá blá blá.

Foco. Foda-se o filme. É que ao ler a noticia sobre esse filme, fui bisbilhotar os comentários do site e o povo começa a falar sobre homossexualidade. Gente até muito educada, suponho, com cuidado ao escolher suas palavras para não ferir os outros, coisa e tal. Parabéns. Mas, eu não sei quanto a vocês, para mim isso é pouco. Digo, é claro que o fato das pessoas medirem suas palavras, seja por medo e, posteriormente, respeito e/ou compaixão com o coleguinha ao lado é um grande avanço, mas só mascara uma forma de pensar que continua existindo. Digo que isso é pouco porque o fim dessa trilha de boa convivência é o sujeito achar o outro pervertido mas ficar calado porque é errado dizer o que pensa. Da mesma forma que eu quero que o criminoso deixe de fazer merda por ter outra opção, ou simplesmente por não querer lesar o outro e não apenas por medo da repreensão. No fim da linha, acredito que o ideal é que o cara veja o semelhante (provocações. hehehe) não como alguém que foge à regra MAS deve ser respeitado e sim que ele entenda que não há regra. Se não há regra, não há transgressão e se não há transgressão não é preciso tolerância. Não existe tolerância com os destros ou canhotos (aliás, uma das poucas coisas que hoje não é historinha – mas antes era...) porque isso não diferencia ninguém. Alguém ser destro ou canhoto quer dizer que a mão hábil é uma e não a outra. Única e exclusivamente isso. Sem preconceito. Pois bem, foco.

Um sujeito foi lá e disse que não tem preconceitos, respeita os outros, aquele papo todo. Mas ele se preocupa com a forma com a qual a TV “expõe os jovens, que são muito mais influenciáveis” a isso – se entendi bem, referindo-se à homossexualidade. Isso me causa estranheza. Quer dizer, a TV expõe a heterossexualidade desde que existe e até então ninguém levantou bandeira. O que me sugere, é que o tema é algo a ser escondido. “Exista, mas contente-se com seu gueto”. Isso é segregação. Pode cobrir de chantili e colocar uma cereja, mas para mim fede do mesmo jeito. Existe outra forma de interpretar isso? A TV, e mais um outro monte de veículos, expõem a homossexualidade como algo que existe, que está aí, ao seu lado. Por que então isso deveria ser “moderado”? Eu viajo nisso e só imagino o carinha dentro da sala vendo televisão e classificando as cenas como 12, 16, 18 anos (afinal, “não é por mim” - disse o rapaz - “a juventude que é influenciável”). Não vai ser o primeiro nem o último a colocar a culpa nos outros por suas fantasias, no sentido psicanalítico da coisa.

Precisa de internação precisa!

Então, com um grande atraso nas “novidades midiáticas” e apesar das atualizações infrequentes, lá vamos nós.
A essa altura do campeonato todo mundo já está careca de saber sobre os fatos do assassinato do cartunista Glauco e seu filho Raoni, certo? Então, todos saber as condições de Cadu, e provavelmente também sabem sobre sua história. Partamos daí.
A razão desse post, contudo não é o evento em si, mas o desencadear que me ocorreu quando li alguns textos e comentários de dois psicanalistas: Contardo Calligaris, que acredito ser colunista da Folha (não sei ao certo pois tive acesso ao seus textos em um blog que não é dele, mas que faz postagens de sua coluna – www.contardocalligaris.blogspot.com) e Luciano Elia, cujo texto me foi enviado por e-mail por uma amiga. O que emergiu disso tudo foi a questão da internação, que eu acreditava estar bem organizada na minha cabeça, mas agora vejo que, talvez, nem tanto.

De forma didática, acho que a gente pode encarar o processo de internação do louco em dois sentidos. O politico e o clínico. No primeiro, teremos a prática higienista no qual a orientação não está acordada com a necessidade do sujeito de alguma interferência institucional por conta de alguma precariedade de inserção na comunidade ou sofrimento em demasia. Nesse sentido, teríamos as internações que servem como depósito de indesejáveis. Pessoas que, por alguma razão, tornam-se complicadores sociais – seja lá qual forem as complicações que trazem. Aí teremos o louco, o mendigo, o ladrão e outras tantas categorias confinadas em um mesmo espaço (físico e social), indiferenciadas, com tratamentos indiferenciados. Veja que daí o que prevalece é a indisponibilidade da sociedade em lidar com esses sujeitos e daí, uma prática que não os acolhe ou trata ou seja lá o que for preciso para cada um. Ela apenas os tira da vista dos “cidadãos de bem”.

No outro extremo, temos a internação clínica, e aqui me refiro apenas ao louco e ao sujeito em sofrimento psíquico (e talvez a outros casos peculiares). Seja como for, essencialmente eu digo: cada complicador em seu espaço, ou melhor dizendo, cada complicador com o suporte necessário (é que isso implica muitas vezes – não sei se certa ou erroneamente – em espaços diferentes). Dessa forma, temos a internação como recurso específico para lidar com pacientes específicos em momentos específicos. Sendo mais direto: o louco pode passar por momentos dos mais variados, sujeitos a uma série de circunstâncias. Tais variações, acredito, sugerirão ações diferentes por parte daqueles que o acompanham, utilizando de serviços diferentes para cada ocasião. Em dados momentos uma internação pode fazer-se necessária, como por exemplo quando o paciente se encontra tomado de maneira tal por seus delírios, que desconecta-se completamente do que o cerca, redundando na inoperabilidade da intervenção clínica (do psicólogo, por exemplo). Mas o que é fundamental nessa prática é termos em mente que o que orienta o uso de um dispositivo ou de outro é a função que ele pode exercer sobre o paciente. Isso gira o eixo do processo de internação, que sai daquilo que seria sua função política de esconder os indesejáveis (algo que admitimos hoje como atitude impraticável – porém muitas vezes praticada!) e passa a ter razão clínica que contribuir para algo que traga ganho ao sujeito (ou evite prejuízos). Outra mudança que esse giro traz é a necessidade de avaliação de cada caso individualmente, uma vez que a internação por razões clínicas não comporta a equação pré-definida “louco=internação”. Ela propõe-se a pensar se nesse caso específico a internação pode trazer algum ganho para o sujeito. Seja lhe dando asilo ou acompanhamento intensivo. Seja protegendo-o dos percalços cotidianos e, porque não?, protegendo quem o cerca de eventuais ações nocivas que ele possa ser levado a cometer.

Embora eu não esteja muito à vontade com essa tal de “internação política”, pois acredito que há outras formas de entender a política das internações, decidi usar essa expressão assim mesmo, mas deixando claro que me refiro a uma forma de se praticar as internações, não pretendendo encerrar apenas nessa definição tudo que a palavra “política” pode compreender. Desculpem por isso.

Sei que tem psicólogo lendo isso, portanto gostaria da opinião abalizada de vocês.