Laranja Mecânica e aquela kal toda.


Eu sei que enrolei um bocado pra escrever esse post. Acho que é porque esse livro me pareceu um pouco difícil, pela quantidade de coisas que pense a respeito dele e fiquei meio enrolado pra colocar isso em papel. Essa é a segunda tentativa, portanto, vamos lá.
De forma cronológica, a primeira impressão foi marcada no prefácio, escrito pelo tradutor. Muito interessante, por sinal, fala a respeito da relevância de Anthony Burgess no estilo literário e o coloca junto a Geroge Orwell e Aldous Huxlei, com 1984 e Admirável Mundo Novo. Fui me envolvendo com a comparação e fiz minhas próprias viagens (e depois vi que estava redondamente enganado). De certa forma, esses livros são caricaturas, exageros de modos de governo e então achei que... não, não... isso está muito chato. Vamos só dizer que Laranja Mecânica parecia ser um ode à Anarquia, mas na verdade não é nada disso. Muito mais retrava a visão de um sujeito muito, mas muito desmedido, que é o tal de Alex. Aliás o Alex é um moleque sinistro, que consegue fazer com que você sinta pena dele mesmo enquanto estupra moças e chuta velhinhos. Ele tem um quê de infantil e ai entra outro lance interessante do livro. Para quem viu o filme (filmão!) do Kubrick, vocês podem não saber, mas o Alex do livro tem apenas 15 anos. E já é o cão chupando manga, vejam vocês. Realmente é fruto de um mundo muito fodido.
Um outro aspecto referente à juventude do rapaz é o nadsat. Isso é o nome do dialeto, por assim dizer, da molecada, ou melhor dizendo, da pivetada. É um monte de palavras bizarras, que nascem da junção /distorção de inglês e russo e correspondem aos nossos “fodeu, tá ligado, perdeu playboy” e coisas do tipo. Ma, na real, o nadsat é muito mais maneiro. Eu até o adotaria, se não fosse o fato de ninguém entender e isso ser de um pedantismo absurdo. Bom, talvez mais tarde. Ler Laranja Mecânica me fez lembrar do querido Lacan. Podem rir, mas sabe quando você lê um texto e não entende 60% do que ficou pra trás, mas mesmo assim segue adiante? Então, é uma experiência semelhante. Ao menos se você suportar não consulta o glossário que está malandramente complementando as páginas finais do livro. Nadsat é foda!
Como isso não é uma resenha e sim um post (meio feito a contragosto, admito), só vou sublinhar outro ponto interessante, no fim do livro.
ALERTA DE SPOILER
Para quem viu o filme, o livro parece como que tendo um capítulo extra. Trata-se de um desfecho que dá um tom muito mais light a tudo que acontece – e por isso foi limado do filme – de maneira que realmente tudo fica com cara de uma fase adolescente, algo normal, que veio e depois passo. Bom, talvez até seja isso mesmo tendo em vista toda cultura fictícia (mas nem tanto) do livro, a postura do Estado, da polícia, da política de oposição, a juventude representada por Alex é até esperada.