Armas, idiotas e armas com idiotas

Quanta gente burra! Eles dizem assim: se as pessoas, toda elas, tiverem armas, os bandidos vão pensar duas vezes antes de se meter com elas. Engraçado, faz tempo que eu não ouço falar de bandido fugindo de polícia. E olha que os homens da lei já vêm quentes, preparados, treinados e com licença pra atirar na bunda dos sujeitos. Não sei não, não sei não. Acho que tem gente querendo fazer valer a própria vontade na força. Espere, mas isso não é o papel do criminoso? Eu já até imagino a cena: o cara sai com a patroa, toma uns gorós, fica chato e distraído. Ai toma um chifre. Então resolve dar um teço no Ricardo, mas este também é “preparado” e os dois encenam aquela clássica do duelo. Só que na TV, todo mundo se tranca em casa e assiste pela janela. Mas se todo mundo tem arma, bom, não é pra dentro de casa que o povo corre. Agora você imagina uma galera armada de um lado “protegendo o amigo corno”, uma galera armada do outro “protegendo o amigo Ricardo”. Um, dois, três e já! Deve ser que nem naquelas batalhas onde os dois exércitos param diante um do outro e um atira. Depois, enquanto o primeiro recarrega, o outro atira. E por ai vai, até sobrar só um sujeito de sorte. Agora, veja você: se o potencial de letalidade de um ataque, briga ou o que quer que seja ainda não é perto de 100%, é porque ainda temos pessoas idiotas querendo matar umas às outras com os punhos, canivetes, castiçais e etc. Se você coloca uma pistola na mão de cada um deles, o que acontece? Já posso até ver, um futuro pós apocalíptico onde um homem, um destino, um Colt... e um bom tênis de corrida, porque tem um monte de maluco correndo atrás dele com um monte de Colts querendo queimar a bunda do carinha! As pessoas acham que podem ser como Chuck Norris.
Li em um site que um sujeito, Larry Pratt, defensor do porte de armas, disse que no massacre e Columbine, se cada professor tivesse uma arma, o assassino teria sido abatido antes de provocar mais mortes. Certo. Bom, então ao invés de policiais, vamos treinar essa rapaziada toda em tiros de longo alcance e precisão. Aliás, nem precisa de policiais. Coloca um computador pra fazer isso, espalhado pela cidade. Quando ele detecta um crime (não importa qual crime!!!), mete uma bala no sujeito. E cara levanta mão pra uma mulher- BANG!, um sujeito, tentando tomar a carteira do outro no muque –BANG!. E por aí vai. Eu achei que a policia fosse pra prender criminosos, não para matá-los. Mas não, o burro, devo ser eu mesmo.

Nosso mundo livre

Um dia, quando eu for dono do mundo ou ao menos for Ministro da Fazenda, ou seja lá quem for o sujeito que invente o nome do dinheiro, eu vou chamá-lo de Liberdade. Aí, quando aluem chamar alguém para ir ao cinema, o outro pode dizer “hum, acho que posso, tenho $$$ liberdades, o que me permite pagar a passagem, a entrada e, talvez, uma pipoca. Infelizmente não tenho liberdade de comer no McDonaldas, mas tudo bem”. O que quero dizer com isso é um pouco maior do que uma piada tosca. É o seguinte: o discurso moderno, capitalista-democrático (burrr) sugere que todos podem fazer o que quiserem, desde que, claro, seja permitido por lei. Dizem que existem direitos iguais, mas isso é mentira. Não estou falando novidade nenhuma para maioria, mas, acreditem, tem gente que acredita de verdade nesse papo de direitos iguais. Então, imaginem uma corrida. Nela tem um sujeito montado em um cavalo daqueles treinados, de corrida mesmo, e o outro está montado em, digamos, uma tábua de passar roupa. Coitado, foi o que ele pôde comprar, ora. Velente, foi para a corrida mesmo assim. Muito bonito, muito louvável, e pode até ser que ele consiga colocar a tábua na garupa, sair correndo, o cavalo do outro camarada tropeçar ou ter um ataque epoplético no meio da corrida. Mas a menos que tudo isso aconteça, o sujeito da tábua vai perder. Pode ser um jóquei muito melhor, mais competente (supondo que teve dinheiro... ou liberdade... para treinar com um cavalo de verdade. Talvez alugar um, ou pegar emprestado com o coleguinha ao lado). Mas em um mundo normal uma tábua de passar jamais corre tanto quanto um cavalo de corrida, não importa o idiota que a monte. Sério, é verdade! Então, isso me leva ao ponto: em um mundo no qual as pessoas têm condições desiguais de progresso e oportunidade, não pode haver liberdade. Eu fiquei um pouco encucado com isso (o quem e levou a essas obviedades todas – desculpem) por conta de umas coisas que andei lendo e pensando. Sobretudo no que diz respeito a regimes políticos totalitaristas e a democracia propagandeada pelos países que, de alguma forma, lideram o (adoro essa expressão) “mundo livre”. Dizem que no regime totalitário o governo comanda o sujeito de acordo com seu interesse, que por isso ele é mau e cara-de-melão. Olha, que o totalitarismo, ao menos da forma que vimos até hoje (se é que há outra, vai saber...) não foi bom negócio em vários aspectos, essa democracia demagógica e hipócrita que nos trazem como alternativa também não vai bem das pernas. Se você tem um governo que é democrático, mas que por motivos econômicos omite informações do seu povo (talvez alguma coisa referente a uma certa gripe, por exemplo), ou investe em um certo tipo de combustível só pra se consolidar como grande fornecedor mundial dele, mesmo sabendo que é uma política muito da chinfrim frente a outras alternativas e retorno a médio e longo prazo, suponho que ele está deixando um pouco a desejar. O que diabos isso tem a ver com liberdade? Simples: se há manipulação não há liberdade. Manipulação de informação, de idéias, for formação da rapaziada que vai mandar amanhã no mundo. O que você acha que é uma propaganda? Foi-se o tempo que era somente a divulgação de algo novo (se é que um dia já foi só isso – provavelmente não). No dia que você viu, pela segunda vez um comercial de um produto, eles já estão dizendo “olha, esse treco existe. Não que seja importante o suficiente pra você lembrar dele sozinho e por isso venho por meio desta te lembrar, mas se você não tiver – seja lá qual for o produto – você será pior do que quem não tem”. E isso se torna ainda mais perturbador quando o produto em questão é uma idéia, uma forma de ver as coisas. Vendem conceitos, preconceitos, vende coisas que podem não se boas pra você. E quem controla isso? Bom, n regime totalitário é o Grande Irmão, mas aqui, na “democracia do mundo livre”... eu não sei. É uma engrenagem tão grande e complicada que o vendedor de arroz pode ter algum tipo de relação com o fabricante de bonecos do He-Man e, por isso, influenciaram nas decisões um do outro que, no dia que o He-Man aparecer comendo arroz em seu desenho você nem vai saber porquê. E certamente ninguém vai te dizer. Talvez o cara que plante feijão. Mas só se isso atrapalhar seus negócios.

Herói

Invariavelmente a morte é a estrela desse pequeno palco. Muitas são as formas de falar dela, o que acontece depois (ou se não acontece nada, que é o que me assusta), mas pouco se fala de como se chega a ela. Em linha gerais, creio que seja uma marcha mesmerizada até um desfiladeiro, no qual todos cairemos quando chegar a nossa vez. Não queria que fosse assim, mas acho que é. A única coisa que me conforta, não por evitar esse destino fatal, é ver que de vez em quando, uma criança de doze anos pode sair correndo, furar a fila e passar todo mundo, naquele instante, só porque fez algo correto. O que conforta, claro, não é a noticia da sua morte, mas a idéia de que ações como essas fazem com que eu acorde dessa marcha angustiante para o desfiladeiro. Como uma vez um professor meu disse “pode-se morrer, mas não de qualquer jeito”. E foi justamente o que aconteceu com Emerson Gomes essa semana. No domingo ele estava brincando na rua com outras crianças, quando começou um tiroteio. Ele correu em direção a outra criança, um amigo, com metade da sua idade, e o protegeu com o próprio corpo enquanto a insanidade comia solta. Por causa disso foi baleado, se não me engano no quadril, e foi hospitalizado. Ele faleceu nessa segunda-feira, quando tinha doze anos. Creio que se não fosse por ele, quem teria levado a bala seria o amigo, de seis anos. Outra coisa que chama a atenção para a história, como se já não fosse muito esse ato de... nem vou tentar nomear isso... a razão pela qual o tiroteio tinha começado, foi que uma vez um cara impediu que bandidos roubassem um celular. Os safados, não satisfeitos com os planos frustrados, foram atrás do sujeito e meteram bala. Não sei o que houve com esse cara, mas gostaria de saber. Espero realmente que esteja bem. Uma pessoa morrer por fazer o que considera certo já é um preço muito alto. Agora, eu não sei o que é pior: se é uma criança ter mais juízo do que um adulto a ponto de fazer uma opção tão foda quanto essa enquanto esses malditos bandidos fazem a escolha errada – duas vezes – ou se é uma espécie e sensação que essa notícia traz. Porque é uma coisa que me divide. Ao mesmo tempo que fico emocionalmente feliz por ver um herói – um herói de fato! – fico triste por ele se fazer necessário, e mais, por ter que pagar com a própria vida por isso. Ah, esse texto está uma merda, não é metade do que eu quero dizer e muito menos é metade do que esse garoto merece. Eu só queria que esse evento não passasse em branco e que talvez, mais alguém pensasse sobre isso.