Canhoto e destro.

Então, um dos irmãos Wachowsky é transsexual sabiam? Aliás, vocês sabem quem são eles? Se a resposta é não, eu digo: são os dois responsáveis por Matrix (acho que foram roteiristas e diretores, mas como eu não tenho certeza, deixa na abrangência). Claro isso não é noticia, tem tempo pra cacete e não é sobre isso exatamente que quero falar. O lance é que eles vão lançar um novo filme agora e que, eu li por aí, terá muitas coisas. Viagem no tempo, tiroteio -pois é um filme de guerra... ou não – e também o romance homossexual entre dois soldados. Blá blá blá.

Foco. Foda-se o filme. É que ao ler a noticia sobre esse filme, fui bisbilhotar os comentários do site e o povo começa a falar sobre homossexualidade. Gente até muito educada, suponho, com cuidado ao escolher suas palavras para não ferir os outros, coisa e tal. Parabéns. Mas, eu não sei quanto a vocês, para mim isso é pouco. Digo, é claro que o fato das pessoas medirem suas palavras, seja por medo e, posteriormente, respeito e/ou compaixão com o coleguinha ao lado é um grande avanço, mas só mascara uma forma de pensar que continua existindo. Digo que isso é pouco porque o fim dessa trilha de boa convivência é o sujeito achar o outro pervertido mas ficar calado porque é errado dizer o que pensa. Da mesma forma que eu quero que o criminoso deixe de fazer merda por ter outra opção, ou simplesmente por não querer lesar o outro e não apenas por medo da repreensão. No fim da linha, acredito que o ideal é que o cara veja o semelhante (provocações. hehehe) não como alguém que foge à regra MAS deve ser respeitado e sim que ele entenda que não há regra. Se não há regra, não há transgressão e se não há transgressão não é preciso tolerância. Não existe tolerância com os destros ou canhotos (aliás, uma das poucas coisas que hoje não é historinha – mas antes era...) porque isso não diferencia ninguém. Alguém ser destro ou canhoto quer dizer que a mão hábil é uma e não a outra. Única e exclusivamente isso. Sem preconceito. Pois bem, foco.

Um sujeito foi lá e disse que não tem preconceitos, respeita os outros, aquele papo todo. Mas ele se preocupa com a forma com a qual a TV “expõe os jovens, que são muito mais influenciáveis” a isso – se entendi bem, referindo-se à homossexualidade. Isso me causa estranheza. Quer dizer, a TV expõe a heterossexualidade desde que existe e até então ninguém levantou bandeira. O que me sugere, é que o tema é algo a ser escondido. “Exista, mas contente-se com seu gueto”. Isso é segregação. Pode cobrir de chantili e colocar uma cereja, mas para mim fede do mesmo jeito. Existe outra forma de interpretar isso? A TV, e mais um outro monte de veículos, expõem a homossexualidade como algo que existe, que está aí, ao seu lado. Por que então isso deveria ser “moderado”? Eu viajo nisso e só imagino o carinha dentro da sala vendo televisão e classificando as cenas como 12, 16, 18 anos (afinal, “não é por mim” - disse o rapaz - “a juventude que é influenciável”). Não vai ser o primeiro nem o último a colocar a culpa nos outros por suas fantasias, no sentido psicanalítico da coisa.

4 comentários:

Lu disse...

Sábias palavras, meu caro Vitor! Acho que você tocou nos pontos mais importantes dessa questão. Respeitar as diferenças, sem camuflagens. Mas acho que nosso caminho será ainda muito longo até se chegar nisso...

Gostei mesmo desse texto, me fez pensar em muitas coisas!! Você tem escrito textos tão bons, aproveita e não demore pro próximo!

Beijos,
lulu

Leoa disse...

Lendo tudo isso, me lembrei de uma propaganda na TVE q perguntava às pessoas nas ruas "Onde vc esconde seu preconceito?" E várias pessoas diziam "NO fundo, láááááá longe, etc". E ela genialmente terminava dizendo algo do tipo: q preconceito não se deve esconder e sim exterminar... SE algo eh escondido, é pq ele existe.

Fez-me lembrar tb do meu pai, q por sinal é canhoto, mas foi forçado a escrever com a direita na escola. Hoje em dia, ele come com a esquerda, mas escreve com a direita. Uma letra de forma, pesada, até bonita... mas é de forma. Entende?

Seus textos são ótimos, não tarde a escrever o próximo.

Mim disse...

Sábado comentei sobre duas conhecidas minhas que, após morarem juntas por 8 anos, resolveram fazer em cartório uma certidão de união estável. Minha interlocutora achou um absurdo. E eu fiquei estupefata com a reação dela, comentei de forma natural, só mais um acontecimento bacana da semana. Mas não é bem assim para muitas pessoas. Como você bem lembrou, basta ver o rebu que causa quando tem beijo gay na TV ou no restaurante chique da cidade.
Adorei a comparação destro/canhoto. Adorei o texto.
Um abração!

no hay otros paraísos que los paraísos perdidos. disse...

aquela velha historia: é triste como as pessoas nao conseguem fugir dos autoparâmetros. e os autoparâmetros passam tanto de boca em boca, faz ja tantas geraçoes, que é realmente dificil ajeitar essa nojeira.
até hoje, tenho vontade de matar um quando ouço alguém falando sobre um gay: "ah, mas ele nao é homem...".